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Pesquisadores da UFVJM criam aplicativo para monitorar epidemias

publicado: 19/05/2020 19h39, última modificação: 20/05/2020 19h25
"Panóptico" foi desenvolvido em um programa de mestrado da instituição e recebeu registro no INPI no último mês de abril

O Panóptico, nome dado ao aplicativo para a vigilância epidemiológica com uso do prontuário eletrônico do cidadão, está pronto para ser utilizado pelo sistema de saúde pública de municípios. No mês de abril deste ano, a tecnologia, desenvolvida durante o Mestrado Interdisciplinar Saúde, Sociedade & Ambiente da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, recebeu o registro do Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI). De acordo com seus autores, Flávio Santos Medeiros da Fonseca e Romero Alves Teixeira, o Panóptico está pronto. “Ele foi desenvolvido utilizando como ambiente de ensaio Montes Claros, que pode ser considerado um município de grande porte”, ressalta Teixeira.

Num momento em que o investimento em ciência tem sido pauta prioritária no país, coloca-se em evidência a importância das tecnologias que identifiquem quadros epidêmicos que sirvam de base para ações mais adequadas por parte dos gestores públicos. O aplicativo permite monitorar o Prontuário Eletrônico do Cidadão no sistema e-SUS AB (Atenção Básica à Saúde) e realizar a coleta de dados das enfermidades, que serão notificadas aos órgãos de saúde competentes.

“O modelo empregado na construção do aplicativo gera demonstrações gráficas e relatórios padronizados, acompanhando a situação das enfermidades e permitindo aos gestores identificar quadros de surtos e epidemias”, explica Fonseca.

A metodologia, que é inédita para o monitoramento de doenças, considera a Curva Epidêmica, o Canal Endêmico e o Diagrama de Controle recomendados pelo Ministério da Saúde. Além disso, segundo os autores, o fato de se utilizar a base do prontuário eletrônico da atenção básica garante confiabilidade e celeridade no trato da informação.

Uma vez que a tecnologia encontra-se protegida e disponível, o próximo passo é a sua transferência, para que os municípios interessados possam utilizá-la.

“O Centro de Inovação Tecnológica (CITec) é o setor responsável na UFVJM por dar suporte em todo o processo que envolve a proteção de propriedade intelectual. Exemplos disso são os pedidos de patentes, registros de marcas, programas de computador, assim como o estímulo a criações com potencial de inovação e a promoção do processo de transferência das tecnologias geradas na instituição para a sociedade”, explica o diretor do CITec-UFVJM, professor Juan Pedro Bretas Roa.

  

Acompanhe abaixo, na entrevista com os autores, mais informações sobre o aplicativo “Panóptico”:

Qual o grande problema identificado na gestão de epidemias pelo SUS que o aplicativo criado se propôs a solucionar?

A subnotificação (notificar menos do que seria esperado ou devido) e o retrabalho necessário para a notificação apresentam-se como os principais problemas para a gestão eficiente de surtos epidêmicos. No cotidiano, além de “cuidar” do cidadão, o profissional da saúde, em especial o médico, tem como obrigação a notificação de casos que constem na lista oficial de doenças de notificação compulsória do Sistema Único de Saúde (SUS). Isso requer o preenchimento de formulários e a utilização de vários SIS (Sistema de Informação em Saúde) específicos.

Na prática, o médico preenche as informações sobre os sintomas do paciente, o código da doença diagnosticada (CID), a receita e pedidos de exames, e notifica o SUS. Com esses dados, o aplicativo monitora, quantifica e expõe aos gestores locais sobre os casos. Uma segunda versão poderia inclusive “notificar”, ou seja, enviar as informações de casos suspeitos para os vários SIS do SUS. Dessa forma, elimina-se o retrabalho e permite ao profissional da saúde dedicar seu tempo para o cuidado com o paciente.

 

Em linhas gerais, como pode ser explicado o funcionamento do aplicativo desde o momento em que o paciente entra no consultório?

Nos últimos anos, ao entrar no consultório para um atendimento qualquer, os cidadãos passaram a perceber a presença de computadores onde são registradas as informações colhidas durante o atendimento - essa é a condição necessária para que o aplicativo possa cumprir seu papel. Então, de forma simplificada, é como se tivéssemos uma pessoa que pega cada um dos prontuários cadastrados, verifica se houve registro de alguma doença que deva ser notificada de forma obrigatória e, caso encontre, envia a informação para pessoas responsáveis pelas ações necessárias para o controle.

 

Pensando no cenário atual de pandemia do coronavírus, se essa tecnologia já estivesse sendo operada no SUS, o que poderia mudar em relação às decisões tomadas?

A vigilância da saúde tradicionalmente está ancorada no tripé informação-decisão-ação. A pandemia Covid-19 nos traz vários aprendizados em relação à vigilância da saúde; entre eles, quanto mais confiável a informação, mais adequada a decisão e, por consequência, as ações. Então, se temos os números reais dos casos suspeitos e confirmados, conseguimos quantificar, acompanhar, projetar e pensar em quais as melhores ações, como por exemplo, antever o melhor momento para o isolamento e demais ações.

  

O aplicativo foi desenvolvido para gestores municipais. Ele possibilita uma unificação dos dados nacionais?

Sim. Devemos considerar que qualquer tecnologia requer um período de observação e adaptação quando submetida a uma escala maior de produção. Mas o “Panóptico” foi pensado para atender até o nível de totalização nacional. Isso é possível porque ele faz uso da mesma estrutura de concentração dos dados imposta pela estratégia do e-SUS AB. Sendo assim, pode atuar nos níveis municipal, regional, estadual e nacional.

 

Como vocês enxergam essa inovação aplicada ao setor de saúde daqui a dez anos?

A sociedade em que vivemos emprega de forma intensa os recursos de TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação) em vários setores, mas a saúde ainda carece de recursos que possam contribuir com seu cotidiano. Em especial, a vigilância da saúde pode tornar-se muito mais proativa caso tenha condições mais adequadas de obter os dados necessários às ações de proteção da saúde humana. Acreditamos que, com o uso do “Panóptico”, em dez anos teríamos uma condição mais adequada aos princípios da vigilância da saúde, quando a informação para decisão se faz necessária, já que estamos tratando de vidas, e não há valor maior que a vida humana.

  

Quer saber mais sobre essas e outras tecnologias da UFVJM? Entre em contato com o CITec!  Acesse e-mail: citec@ufvjm.edu.br ou preencha o formulário em http://nitufvjm.com.br/envio-de-demanda-ao-citec/.