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Pesquisador da UFVJM é convidado da ONU para revisar capítulo de livro sobre turfeiras

publicado: 26/05/2022 09h20, última modificação: 26/05/2022 09h24
Professor Alexandre Christófaro foi convidado para revisar o capítulo “Regional Assessment for Latin America and the Caribbean”

Pesquisador da UFVJM é convidado pela ONU para revisar documento oficial sobre turfeiras

 

O professor do departamento de Engenharia Florestal da UFVJM, Alexandre Christófaro Silva, acaba de ser convidado para ser o revisor do capítulo 6 do Global Peatlands Assessment (Avalição Global de Turfeiras, em tradução livre), que faz parte de uma iniciativa global (Global Peatlands Iniciative - GPI), lançada pela ONU em Marrocos em 2016.

Liderada pelo United Nations Environment Programme (UNEP), um programa das Nações Unidas para o meio-ambiente, o objetivo da iniciativa é mostrar como promover o uso sustentável, a conservação e a restauração de áreas com turfeiras.

Por ser especialista nacional no assunto, o professor Alexandre foi convidado para revisar o capítulo “Regional Assessment for Latin America and the Caribbean”. O professor iniciou suas pesquisas em 2003, há quase 20 anos e tem dezenas de artigos publicados sobre o tema. “Vários projetos abordando essa temática foram aprovados por órgãos de fomento (FAPEMIG, CNPq, CAPES), captando recursos para adquirir equipamentos que fazem parte do parque analítico da UFVJM e para custear os projetos de mestrado, doutorado e iniciação científica”, informa o professor.

O convite para External Reviewer for the GPI Global Peatlands Assessment - Revisão do capítulo foi feito a partir do reconhecimento da importância dos estudos conduzidos pelo  grupo de pesquisadores e estudantes da UFVJM para ampliar o conhecimento gerado sobre turfeiras tropicais de montanha.

O que são turfeiras

As turfeiras são ecossistemas de transição entre ambientes terrestres e aquáticos, formados pela acumulação no tempo e no espaço de tecidos vegetais em condições de excessiva umidade, pouca disponibilidade de nutrientes, baixo pH e escassez de oxigênio, onde a matéria orgânica passa por processos de lenta humificação/mineralização. Os ecossistemas de turfeiras da Serra do Espinhaço Meridional, situada no estado de Minas Gerais, se formaram pela combinação sui generis de fatores geológicos, geomorfológicos, pedológicos, hidrológicos e bióticos, lançando as bases de sua grande biodiversidade, endêmica e peculiar. Durante dezenas de milhares de anos esses ecossistemas foram se desenvolvendo e sendo ampliados, preservando proxies para a reconstituição ambiental, sequestrando cada vez mais carbono e aumentando sua capacidade de armazenar água (“efeito esponja”) e regular a vazão dos cursos d’água. Além disso, várias espécies de vegetais e de animais são exclusivas desses ecossistemas.

Segundo o professor Alexandre, pela importância das turfeiras, ” é premente o empoderamento das comunidades locais e regionais acerca da importância dos ecossistemas de turfeiras tanto para o ambiente, para a sócio economia e para a qualidade de vida de suas populações, como para o planeta. Também é fundamental que os ecossistemas de turfeiras passem a fazer parte do Sistema de Classificação das Áreas Úmidas Brasileiras. A preservação das turfeiras da Serra do Espinhaço Meridional é estratégica, tanto regional quanto globalmente.

 

 

As turfeiras em Diamantina e região

Os ecossistemas de turfeiras da Serra do Espinhaço Meridional (SdEM) constituem as cabeceiras (nascentes) de rios das mais importantes bacias do leste brasileiro: as bacias do Rio São Francisco, Rio Jequitinhonha e Rio Doce. Os dois únicos rios perenes da região semi-árida do nordeste de Minas Gerais, o Rio Jequitinhonha e seu principal afluente, o Rio Araçuaí, têm suas cabeceiras formadas por turfeiras, que armazenam água no período chuvoso e regulam suas vazões no período seco do ano. 

Como esses ecossistemas são formados por solos orgânicos, se constituem em grandes sumidouros de carbono, contribuindo para a minimização do efeito estufa.

Como são ambientes redutores, preservam materiais depositados no passado, como polens, fitólitos e microfósseis que, juntamente com isótopos estáveis de C e N, análise geoquímica e datações de suas camadas por 14C, permitem a reconstituição do paleoambiente e do paleoclima. Estudos de reconstituição ambiental levados a cabo nesses ecossistemas evidenciaram várias mudanças paleoclimáticas nos últimos 35 mil anos: o clima já foi mais frio, mais quente, mais seco e mais úmido que o clima atual.

 

Fig A

 

Fig B 

 

Figura 1. A). Aspecto geral da turfeira situada no Distrito de Pinheiro, Serra do Espinhaço Meridional, Diamantina (MG); B) Testemunho da turfeira Rio Preto, coletado no Parque Estadual do Rio Preto (MG), sendo descrito e amostrado no LIPEMVALE/UFVJM

Para saber mais acesse: https://www.youtube.com/watch?v=cVUEbsDpsPo