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Pesquisa de professor da UFVJM cria biossensor para diagnosticar infarto

publicado: 02/04/2020 13h24, última modificação: 02/04/2020 14h09
Dispositivo óptico conquistou patente por ser capaz de fazer diagnóstico de lesões no coração num menor tempo e com a mesma precisão dos exames tradicionais

O professor do Instituto de Engenharia, Ciência e Tecnologia, do Campus Janaúba da UFVJM, Luciano Pereira Rodrigues, conquistou patente de invenção do resultado da pesquisa de seu mestrado: um biossensor capaz de diagnosticar lesões no coração causadas pelo infarto, em menor tempo e com a mesma precisão dos exames usados hoje. O aparelho foi inventado em 2012, durante seu mestrado realizado na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), e recebeu a patente no final de fevereiro deste ano, concedida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial.

“A pesquisa foi realizada entre 2009 e 2011. O protótipo do dispositivo teve seu pedido de patente depositado em 23/2/2012 e, exatamente oito anos depois, a UFU recebeu a carta de concessão da patente com validade de 20 anos a partir de 23/2/2020”, detalha Luciano. A pesquisa teve a orientação do professor João Marcos Madurro, do Instituto de Química da UFU, e a co-orientação da professora Ana Gracci Brito Madurro, também da UFU.

Segundo o professor da UFVJM, a agilidade do resultado pelo exame com o biossensor vai permitir que seja decidido precocemente qual o melhor tratamento no caso de infarto. “Esse dispositivo poderá ser útil no prognóstico preciso dos pacientes em prontos-socorros e hospitais, reduzindo o risco de mortes por infarto e, consequentemente, contribuindo para a redução das taxas de mortalidade que, no Brasil, são altas”.

A pesquisa recebeu a patente de invenção por ter criado um teste que detecta a proteína Troponina T (parte exclusiva do músculo do coração, que é liberada na corrente sanguínea assim que começa a lesão cardíaca) por meio de um sensor. “Sobre uma plataforma de vidro, depositamos um filme polimérico de espessura nanométrica, que imobiliza o anticorpo-troponina através de uma ligação covalente. As proteínas Troponina T vão se ligar ao anticorpo; por consequência a Troponina T fica aderida”, explica Luciano.


Figura disponível no artigo intitulado "Bioelectrode applied to diagnosis of cardiac disease", publicado em 2014, por Luciano Rodrigues e outros autores, na Revista Journal of Nanoscience and Nanotechnology


Ainda segundo o pesquisador, para que essa ligação fique visível, eles marcaram um outro anticorpo-troponina com um nanomaterial que apresenta propriedades fluorescentes excepcionais, formando uma espécie de sanduíche. “O dispositivo incide um laser azul sobre a amostra e, se ela emitir uma luz verde, indica que tem anticorpo ligado à Troponina T, ou seja, o paciente está com uma lesão causada por infarto. Mas, se o paciente estiver com outro problema ou saudável, nenhuma emissão de luz será observada” descreve.


Figura disponível no artigo intitulado “Bioelectrode applied to diagnosis of cardiac disease”, publicado em 2014, por Luciano Rodrigues e outros autores, na Revista Journal of Nanoscience and Nanotechnology


Sobre a previsão de quando esse novo exame para infarto estará disponível na rede de saúde do Brasil, o pesquisador da UFVJM explica que “apesar dos resultados promissores obtidos por esse protótipo, ainda serão necessários investimentos antes da sua produção e comercialização. Etapas de otimização, miniaturização e portabilidade são imprescindíveis para o uso efetivo desse dispositivo na saúde pública”.


Figura disponível no artigo intitulado “Bioelectrode applied to diagnosis of cardiac disease”, publicado em 2014, por Luciano Rodrigues e outros autores, na Revista Journal of Nanoscience and Nanotechnology


A pesquisa de mestrado recebeu investimento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

 
Professor Luciano Pereira Rodrigues (foto: arquivo pessoal do pesquisador)


Pesquisa no Brasil

Diante da conquista da patente, o pesquisador da UFVJM reflete que não se faz boa ciência isoladamente em laboratórios. “As necessidades da sociedade são facilmente identificáveis, todavia as soluções de tais problemas são normalmente complexas. Para tanto é necessário coletividade entre os pesquisadores. Esse protótipo foi desenvolvido devido a uma interação saudável que ocorreu entre vários profissionais dos Institutos de Química, Genética e Bioquímica, Física, Ciências Biomédicas da Universidade Federal de Uberlândia. Acredito que a cooperação efetiva entre os pesquisadores irá fazer com que cheguemos ainda mais longe”.

E diante do cenário atual do Brasil e do mundo, com a pandemia causada pela Covid-19, para Luciano o mundo tem despertado e parece perceber que cada vez mais vai precisar da ciência e de seus estudiosos. “Espero que as autoridades governamentais valorizem mais a ciência e seus profissionais, ampliando os investimentos para a manutenção e ampliação das pesquisas de qualidade em todo o país. Espero que as universidades, através de seus mecanismos, aproximem efetivamente da sociedade e das indústrias e que isso seja recíproco. A reflexão desse cenário me leva a crer que mesmo frente a tantas dificuldades, nós pesquisadores precisamos prosseguir”.

Para a realização do mestrado, da pesquisa que resultou na criação desse exame mais rápido e eficaz em diagnóstico de infarto, Luciano conta que só foi possível porque teve uma bolsa da Capes. “O período em que desenvolvemos esse trabalho de mestrado foi muito complexo na minha vida. Eu, minha esposa e dois filhos tínhamos como única fonte de renda a bolsa fornecida pela Capes. Portanto a carta de concessão dessa patente é para nós um presente de Deus”.

 

Confira a íntegra da carta patente aqui.

 

Este texto contém trechos da reportagem publicada no Portal Comunica UFU, de autoria de Thiago "Zina" Crepaldi, aluno do curso de Jornalismo da UFU. Confira a reportagem completa da UFU sobre o assuntohttp://comunica.ufu.br/node/15101.