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Diálogos Interdisciplinares no Vale do Jequitinhonha reúne pesquisas de diferentes áreas das ciências humanas

publicado: 16/03/2020 20h50, última modificação: 17/03/2020 14h14
Obra foi lançada no último sábado (14) e propõe-se a divulgar os trabalhos produzidos no Vale do Jequitinhonha e também sobre o Vale do Jequitinhonha e suas diversas práticas culturais

Foi lançado em Diamantina, no sábado (14/3), o livro Diálogos Interdisciplinares no Vale do Jequitinhonha, que reúne o resultado de atividades de pesquisas acadêmicas desenvolvidas por professores pesquisadores, alunos e colaboradores do Programa de Pós-Graduação em Ciências Humanas (PPG-CH) da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri.

O livro é organizado pelos professores Heron Laiber Bonadiman, Fernanda Valim Côrtes Migue, André Luís Lopes Borges de Mattos, Davidson Afonso de Ramos e Maria Cláudia Almeida Orlando Magnani, da Faculdade Interdisciplinar em Humanidades (FIH/UFVJM), e traduz a proposta do próprio programa de mestrado, que reúne professores e pesquisas de diferentes áreas das ciências humanas.

“Desde sua criação em 2012, a função principal do programa tem sido formar profissionais e intelectuais que problematizem de modo interdisciplinar os dilemas humanos enfrentados no cotidiano das relações sociais. Reconhecemos a importância de sua existência na formação crítica e sensível de toda a comunidade envolvida, assumindo que os problemas sociais mais importantes e urgentes da sociedade atual poderão ser melhor elaborados e investigados quando se aceita o desafio de dissolver os limites seguros e categóricos dos campos disciplinares”, explica Fernanda Valim.

Os capítulos iniciais da obra trazem um panorama de aspectos culturais do Vale do Jequitinhonha.

No capítulo que abre o livro, “Mulheres que dizem som: as poéticas dos cantos das lavadeiras de Almenara”, buscou-se apresentar as canções populares das lavadeiras do Jequitinhonha como produções poéticas e, dessa forma, analisá-las na perspectiva da literatura e dos estudos culturais. O capítulo seguinte, “Minha Vida de Menina: percurso literário como promoção do turismo cultural em Diamantina”, apresenta o relato de uma experiência acadêmica realizada junto aos alunos da UFVJM após a leitura do livro de Helena Morley. As autoras relatam como um diário escrito no final do século XIX pode ser reinterpretado e ressignificado nas ruas de Diamantina, promovendo o resgate multidisciplinar de diversos elementos da cultura local. No capítulo “Algumas práticas culturais do cotidiano na cidade de Diamantina”, os autores analisam a categoria cultura como um agir in situ, narrando práticas cotidianas que revelam o como se aprende a ser dessa cidade.

O livro traz também textos que debatem aspectos educacionais em diversas épocas e espaços na região do Vale do Jequitinhonha.

Em “Educação feminina nas páginas do jornal O Jequitinhonha (Diamantina/MG, 1860-1873)”, busca-se compreender os papéis designados para as mulheres em uma sociedade regida pela religiosidade católica e pelo patriarcalismo, mesmo em um periódico de cunho político liberal. Já em “O ciberespaço como ambiente de construção de subjetividades: estudo de caso das mídias digitais da UFVJM”, destaca-se o modo como pessoas constroem seus ambientes virtuais de trabalho e entretenimento e como essas tecnologias se inserem e modificam os hábitos e geram seus próprios nichos de informação. O capítulo “As dinâmicas de funcionamento das bibliotecas escolares diamantinenses e os desafios na promoção da leitura” constrói um perfil da configuração das bibliotecas e discute os problemas de seu funcionamento, resultando na elaboração de alternativas de ressignificação desses locais como promotores do ato de leitura. Encerrando esse conjunto de textos sobre educação, “Microcontos e processamento cognitivo: experiências de leitura com universitários do Vale do Jequitinhonha” apresenta os resultados de testes de compreensão de leitura realizados pelos autores, avaliando como a construção do sentido de textos indeterminados pode variar em termos das estratégias de processamento cognitivo.

Um terceiro conjunto de estudos mostra os paradoxos e as potencialidades do Vale do Jequitinhonha em relação ao mundo e seus atores.

No capítulo “A produção global da natureza e o Vale visto do lado de cá”, o autor analisa os paradoxos da produção capitalista de espaço em relação à questão ambiental, particularmente em relação à produção de eucalipto e seus impactos no Vale do Jequitinhonha. Por sua vez, em “O discurso do desenvolvimento e a ação do Estado no Vale do Jequitinhonha”, os autores problematizam como a noção de desenvolvimento foi utilizada pelo Estado brasileiro no Vale do Jequitinhonha nas décadas de 1960 a 1980, quase nunca com resultados positivos. No capítulo “Desenho institucional, participação e representação: as experiências dos conselhos municipais de saúde e assistência social de Diamantina”, os autores partem da ideia dos conselhos representativos como locais de exercício da democracia, analisando seus limites e possibilidades. Finalizando esse conjunto, na análise “Vulnerabilidade social versus políticas públicas: reflexões a partir de exemplos do Vale do Jequitinhonha”, as autoras questionam o sentido da vulnerabilidade na perspectiva das mulheres em situação de prostituição, das crianças institucionalizadas e das pessoas encarceradas. Encerra o livro “Arqueologia em Serra Negra: uma síntese interdisciplinar das ocupações humanas antes da conquista nas paisagens do alto Vale do Araçuaí, Minas Gerais”, capítulo que apresenta uma síntese das intervenções arqueológicas realizadas no local, com marcas evidentes de ocupação humana antes da conquista europeia, mostrando o quão antiga é a intervenção humana no que hoje é denominado Vale do Jequitinhonha.


Fernanda Valim Côrtes Miguel, André Luís Lopes Borges de Mattos, Maria Cláudia Almeida Orlando Magnani e Davidson Afonso de Ramos, professores organizadores da obra (foto: Arquivo Pessoal)

Os 12 capítulos que compõem Diálogos Interdisciplinares divulgam estudos e temas relacionados aos aspectos históricos, culturais, políticos, arqueológicos e educacionais do Vale do Jequitinhonha.

“A obra parte de perspectivas distintas em direção a um desafio comum: apresentar o Vale do Jequitinhonha como um contexto local e situado e, ao mesmo tempo, como um lugar de hibridismos culturais, com características universais. A coletânea reúne estudos produzidos fora dos tradicionais centros de saberes, dando relevância também aos temas e aos problemas regionais, embora não somente a eles. O principal desafio da coletânea foi a de, sem negar a importância dos temas e problemas regionais, apresentar um conjunto de artigos produzidos no e sobre o Vale do Jequitinhonha que não o tomasse como um objeto de pesquisa a priori, mas como um contexto, quando não um locus, com o qual, inevitavelmente, cada um dos autores dialoga”, finaliza Fernanda.

Os interessados podem adquirir a obra no site da editora CRV, por este link. Acesse!