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Ex-aluna da UFVJM está entre 12 aprovados em chamada pública para cientistas negros e indígenas

publicado: 11/10/2023 20h42, última modificação: 11/10/2023 20h42
Thamyres Sabrina Gonçalves fez mestrado e doutorado na universidade e vai cursar pós-doutorado com foco em Ecologia no Rio de Janeiro

A ex-aluna de mestrado e doutorado da UFVJM Thamyres Sabrina Gonçalves foi selecionada em chamada pública exclusiva para cientistas negros e indígenas e faz parte dos 12 pesquisadores que vão trabalhar como pós-doutorandos em grupos de pesquisa no estado do Rio de Janeiro. A iniciativa do Instituto Serrapilheira e da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) tem foco em Ecologia, e o objetivo é garantir que mais pessoas de grupos sub-representados sejam formalmente integradas à academia como professores universitários e pesquisadores.

Graduada em Geografia pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), cidade em que nasceu, e especialização em Biologia da Conservação pela mesma instituição, Thamyres Sabrina fez mestrado em Ciência Florestal e doutorado em Produção Vegetal pela UFVJM. Foi a partir da tese de doutorado focada na origem e evolução fitogeográfica dos capões de mata associados às turfeiras que ela decidiu se candidatar à bolsa de pós-doutorado e ampliar sua pesquisa, incorporando o estudo dos carvões presentes nas turfeiras em diferentes profundidades, uma área até então pouco explorada.

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Aprovada em chamada pública Serrapilheira-Faperj, Thamyres Sabrina Gonçalves fez mestrado e doutorado na UFVJM
(Fotos: Arquivo pessoal)

Assim, a pesquisadora egressa da UFVJM vai investigar como o achado de carvão em áreas de floresta, que normalmente não pegam fogo, pode ajudar a compreender a história evolutiva da Serra do Espinhaço, entre Minas Gerais e Bahia. Ela vai integrar o Laboratório de Arqueologia da Paisagem do Museu Nacional, unidade de pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), para trabalhar com a Antropologia na reconstituição da história da região.

Importante destacar que a pesquisa a ser desenvolvida por Tamyres Sabrina terá suporte logístico, de campo e laboratorial da equipe da UFVJM liderada pelo professor Alexandre Christófaro Silva, seu orientador durante o doutorado.

A Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-graduação (PRPPG) parabeniza a egressa pela conquista, reconhecendo e enaltecendo sua notável contribuição para a pesquisa científica. “Tamyres Sabrina segue os passos de outras mulheres ilustres na ciência brasileira, como Enedina Alves Marques, a primeira mulher negra a se graduar no ensino superior no Brasil, que inclusive é a homenageada da IX Sintegra da UFVJM, a ser realizada de 5 a 7 de dezembro de 2023. É relevante destacar que Enedina Alves Marques simboliza mulheres como Tamyres Sabrina, tornando-se uma fonte de inspiração para as discentes que atualmente estão cursando graduação e pós-graduação na UFVJM. Sua trajetória motiva essas jovens a persistirem, visando à transformação das regiões dos Vales do Jequitinhonha, Mucuri, Norte e Noroeste de Minas Gerais. Essa transformação se dará pela integração de conhecimentos e saberes, gerando impactos sociais, regionais, econômicos e tecnológicos não apenas no Brasil, mas também no mundo”, destaca a pró-reitora de Pesquisa e Pós-graduação da UFVJM, Ana Cristina Rodrigues Lacerda.

Começo difícil, estudos na UFVJM e conscientização

Descendente de indígenas e quilombolas, Thamyres Sabrina chegou a viver na rua na infância e passou por abrigos até ingressar na universidade por meio de ações afirmativas. A chegada à UFVJM foi ‘por acaso’. “Quando aluna da Unimontes, eu já tinha ouvido falar ‘dessa tal UFVJM’, uma universidade nova que tinha sido criada em Diamantina, para dar suporte ao desenvolvimento da nossa região claramente inserida socioeconomicamente no contexto nordestino. Esse vale tinha tudo a me ensinar, mas meu sonho mesmo era fazer o mestrado lá na UFMG, afinal o centralismo metropolitano que impera na academia direciona-nos a pensar que as melhores universidades são sempre as dos grandes centros, da capital. Mas felizmente nós não somos só fruto de expectativas e ilusões, somos também produto da nossa história, da nossa territorialidade, do regionalismo que forma essas nossas histórias e que define as nossas possibilidades. Não teria sido possível me manter em Belo Horizonte, mesmo com bolsa, então vim fazer mestrado na UFVJM”, conta a pesquisadora.

Durante o mestrado, Thamyres Sabrina foi mãe e, mesmo sem rede de apoio, decidiu continuar os estudos, superando inúmeras dificuldades devido à condição de mulher, negra, mãe e com limitações financeiras na região do Vale do Jequitinhonha. Sua jornada demonstra que a persistência é fundamental para o desenvolvimento pessoal, profissional e acadêmico. “Conheci a Tamires em 2016, quando ela me procurou querendo trabalhar na minha equipe para fazer doutorado na área de turfeiras. Pela formação dela como geógrafa e mestrado na área de conservação da natureza, sugeri trabalharmos com os capões de mata que ocorrem nas turfeiras. Ela rapidamente abraçou a ideia e trabalhou bastante, com todas as dificuldades que sempre teve. Buscou aprofundar seus conhecimentos, fez disciplinas e estágios em outras instituições, e defendeu uma tese muito bonita sobre a origem e evolução fitogeográfica dos capões de mata associadas às turfeiras, que já resultou em quatro artigos científicos publicados em revistas de impacto”, detalha o professor Alexandre Christófaro Silva, orientador da pesquisadora no Programa de Pós-graduação em Produção Vegetal (PPGPV) da UFVJM.

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Thamyres Sabrina e sua filha Sofia, hoje com 8 anos, que sempre acompanhou a mãe em suas pesquisas
(Fotos: Arquivo pessoal)

Com a determinação que lhe é própria, Thamyres Sabrina elaborou um projeto de alta qualidade e se candidatou à bolsa de pós-doutorado do edital Serrapilheria-Faperj. “Sempre curiosa em elucidar cada vez mais a origem dos carvões, ela se propôs a dar continuidade ao estudo da evolução das paisagens, mas adicionando uma nova variável que até então não tínhamos trabalhado, que é a antracologia, o estudo dos carvões. Acredito que vai ser um trabalho belíssimo, que vai gerar muitos frutos e trazer conhecimentos novos para a nossa equipe, para os estudos das turfeiras na UFVJM e também para os estudos climáticos, paleoclimáticos e paleoambientais do Brasil. Estaremos junto com ela nessa empreitada e desde já parabenizamos por tão importante conquista”, completa o professor Alexandre Christófaro.

“A UFVJM faz parte de mim. Foi nela que minha filha nasceu e foi nela que eu encontrei suporte para resistir a todas as dificuldades impostas ao meu sonho de ser doutora. Hoje, vejo que de tudo que a UFVJM me deu, curiosamente, o diploma nem é o mais importante. Eu não passei na chamada pública porque tenho um diploma de doutora - todos os outros candidatos também têm! Foi pela postura, pela história, pela construção toda que envolve minha formação até aqui. Sou muito grata a cada pilastra, a cada detalhe dessa universidade. Contem sempre comigo para que a UFVJM seja do tamanho que ela tem que ser!”, finaliza a pesquisadora Thamyres Sabrina Gonçalves.

Chamada pública exclusiva para cientistas negros e indígenas

O edital foi lançado por meio de uma parceria inédita entre o Instituto Serrapilheira e a Faperj. A ideia era promover novas linhas de pesquisa em ecologia formuladas por pós-doutores negros e indígenas que almejam conquistar, no médio prazo, posições permanentes em instituições de ensino.

“Nesta chamada, nos propusemos a selecionar oito cientistas negros ou indígenas, com doutorado em ecologia, que praticassem uma ciência de excelência. Selecionamos 12, e outros tantos ficaram de fora”, afirma Cristina Caldas, diretora de Ciência do Serrapilheira. “Mostramos que, se não mudarmos a forma de seleção, cientistas negros e indígenas de excelência seguirão sendo excluídos do fazer científico, e todos os candidatos continuarão parecidos. Os postos acabam ocupados por quem estudou na escola certa, mora no bairro certo, frequenta as rodas certas, e qualquer desvio desse caminho é penalizado.”

Ao avaliar as propostas dos candidatos, o painel de revisores levou em consideração critérios como originalidade, riscos da pesquisa e o nível de contribuição que o projeto pode trazer ao grupo que vai recebê-lo. A chamada também buscou promover a mobilidade entre os cientistas. Dos selecionados, três são da região Nordeste, sete do Sudeste, um do Sul e um da Nigéria. O grupo é formado por seis homens e seis mulheres, sendo que 11 se autodeclararam negros e um, indígena.

Para o presidente da Faperj, Jerson Lima, apoiar uma política científica que realmente faça a diferença, olhando para questões de gênero e raciais e com oportunidades iguais para todos é o que “tem nos mobilizado e emocionado”. “Pensar em editais fora do escopo tradicional da agência e observar uma adesão muito maior do que qualquer expectativa inicial nos mostra que não podemos jamais, daqui para frente, esquecer do maior grupo populacional do Brasil - as pessoas negras - e dos indígenas. A ciência também é feita com eles.”

Conheça mais sobre o edital do Serrapilheira-Faperj, os outros cientistas aprovados e seus projetos de pesquisa na matéria publicada no site do Instituto Serrapilheira.

 

Por Coordenadoria de Comunicação Social