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Ensino, Pesquisa e Extensão
Primeira expedição pedagógica da UFVJM cruza fronteiras de 21 municípios
Grupo na Margem do Jequitinhonha na área da escola Família Agrícola Renascer no Assentamento da Reforma Agrária Campo Novo, no município de Jequitinhonha, no dia 17 de novembro de 2024.
Conectar lutas, memórias, modos de vida e saberes dos territórios do Vale do Jequitinhonha aos processos formativos desenvolvidos no âmbito da pesquisa, ensino e extensão da UFVJM. Esse foi o principal objetivo da travessia pelos caminhos do Rio Jequitinhonha, a ‘Viagem Interdisciplinar da nascente à foz do Rio Jequitinhonha: tecendo sabedorias entre ataques e resistências’. Realizada pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos Rurais (PPGer) e pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Humanas, a expedição pedagógica da UFVJM saiu no último dia 14 de novembro e durou até o dia 21 de novembro deste ano.
A expedição contou com a participação de pesquisadores dos dois Programas de Pós-Graduação, em Estudos Rurais e Ciências Humanas; estudantes do curso de graduação em Licenciatura em Geografia e Educação do Campo (LEC); cinco professores da UFVJM; e um grupo de internacionalistas (alemães, espanhola, russa), lutadoras da causa indígena da região e da Comissão Pastoral da Terra. O percurso contou com visitas a comunidades quilombolas, indígenas; campesinos da reforma agrária; e comunidades urbanas atingidas por barragem do Rio Jequitinhonha e marisqueiras.
Grupo em Belmonte, as margens do Rio na sua foz, reunião no ponto de encontro da associação dos pescadores, no dia dia 20 de novembro de 2024.
“Embebido no ideal de que ‘el camino se hace al caminar’; e seguindo o roteiro das memórias e resistências dos Vales, cruzamos a fronteiras de 21 municípios (18 em Minas Gerais e 3 na Bahia), dormimos em 6 municípios ao longo do Rio Jequitinhonha. Fizemos mais de 18 paradas para encontros e diálogos sobre as histórias, riquezas e lutas de povos indígenas, comunidades quilombolas, religiões de matriz africana, sindicalistas rurais, escola família agrícola, agricultores de toda diversidade de riquezas regionais, movimentos sociais que lutam pelo direito à terra, educação, moradia e por reparação aos danos causados por grandes empreendimentos empresariais”, conta a coordenação do mestrado em Estudos Rurais, professora Ivana Cristina Lovo.
A coordenadora narra que “o caminho vivido ao longo da bacia do Rio Jequitinhonha denunciou que os grandes empreendimentos foram viabilizados com a conivência do estado, que parece abandonar a região à sua própria sorte e só age com sua grande força para viabilizar a exploração dessas populações e de seus bens comuns, a começar pela derrubada das florestas e genocídio dos povos originários para o avanço dos latifúndios, para a mineração dos metais preciosos enviados para a Europa e até hoje comercializados nos mais ricos centros econômicos mundiais, passando pelo avanço da monocultura de eucalipto e seu ‘deserto verde’ devastando os solos comunais das chapadas, as águas, o cerrado e a mata atlântica”.
Encontro com povos de Terreiro Casa das Águas, em Belmonte, no dia 19 de novembro
Ivana relata que a expedição “encontrou pescadores sem peixes e cidades turísticas abandonadas pela construção de grandes barragens hidroelétricas no Rio Jequitinhonha. Barragens que empossaram e controlam a vazão do rio em nome da elevação de suas taxas de lucro, em benefício de isenções fiscais na conta de energia elétrica das grandes empresas, sem compensação para a população local, profundamente impactada pelos danos socioambientais e a degradação do Rio Jequitinhonha. E, mais recentemente, a crescente ameaça da nova corrida multinacional pelo ‘ouro branco’, o lítio, que começa a gerar muita riqueza no exterior e deixar devastação e sacrifício no Vale do Jequitinhonha, anunciando a continuidade do ciclo de expropriação colonial”.
Para a professora, “apesar dos ataques e ameaças, ou talvez exatamente por isso, a bacia do Rio Jequitinhonha possui enorme patrimônio natural e guarda grande riqueza cultural de um povo feliz e forte, que se articula para lutar por um Vale do Jequitinhonha livre de toda forma de opressão e exploração. Essa foi a primeira atividade na UFVJM que atravessou o rio, para além das cisões geopolíticas estaduais do território dos povos do Jequitinhonha. Certos de que a expedição pela bacia do Rio Jequitinhonha não se esgota com a chegada do coletivo viajante em Diamantina, mas se transforma na práxis educativa que reconhece o território da bacia, entendendo suas diversidades, saberes, semeando o diálogo, a partilha e a articulação dos povos do Vale, seguiremos adiante. A semente foi lançada, deixou o dever de reviver a travessia, envolvendo mais representantes das comunidades visitadas e os respectivos movimentos sociais que os representam”, reflete Ivana.
Momento de diálogo na Aldeia Cinta Vermelha, Araçuaí - partilhas sobre o Campus Quilombo do IFNMG, no dia 16 de novembro
Conheça o roteiro do trabalho de campo - Da nascente à Foz do Rio Jequitinhonha, o mapa da expedição:
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Confira mais imagens e informações sobre a expedição no perfil oficial do Programa de Pós-Graduação em Estudos Rurais (PPGer): @estudosrurais
Agradecimento especial dos realizadores da expedição:
“À coorganização dos estudantes do Programa de Pós-Graduação em Estudos Rurais (PPGER) e à Divisão de Transporte da UFVJM, Campus JK.
Organizadores: PPGER, PPGCH, Observatório dos Vales e Semiárido Mineiro.
Apoiadores: CAPES e PRPPG, FIH, PROEXC e grupo de alemães que participaram da viagem”.
Por Diretoria de Comunicação Social